Biografia do artista
Raul Mourão nasce no Rio de Janeiro (RJ) em 1967 e, durante a infância, seu contato com a arte começa através de visitas a museus, com a família, e na observação de pinturas e desenhos que o pai realiza como hobbie. Na adolescência, desenvolve grande interesse por cinema, literatura, música e esportes. Na segunda metade da década de 1980, faz cursos livres de fotografia e oficinas teóricas de cinema no Cineclube do Estação Botafogo, local que passa a frequentar com assiduidade. O contato com diferentes áreas culturais, assim como o interesse pelo esporte e pelas poéticas da cidade e da rua, são fundamentais no desenvolvimento do seu trabalho.
Em 1986 inicia curso de graduação em Comunicação, na Faculdade Helio Alonso. No mesmo ano, inscreve-se no curso de pintura, Bloqueios Criativos, realizado por Charles Watson, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Começa a estagiar em uma produtora independente de vídeo e, nesse momento, tem o primeiro contato com operação de câmeras e ilhas de edição.
No ano de 1988 ingressa na Faculdade de Arquitetura da Universidade Santa Úrsula. Volta a ter aulas na EAV-Parque Lage que, nesse período, é dirigida pelo crítico de arte Frederico Morais. Ao longo dos três anos seguintes, Mourão frequentou a escola participando de cursos e realizando pequenas mostras. Nesse período, conhece e convive com outros alunos como Adriano Pedrosa, Afonso Tostes, Ana Rondon, Augusto Herkenhoff, Cabelo, Cassia Castro, Daniel Feingold, José Bechara, José Damasceno, Marcelo Rocha, Marcia Thompson, Tatiana Grinberg, entre outros. Na mesma época, também se aproxima de artistas da chamada Geração 80, como Alex Hamburguer, Analu Cunha, André Costa, Barrão, Marcia X, Marcus André, Marcos Chaves, Luiz Zerbini, Ricardo Basbaum, Ricardo Becker, Ricardo Maurício e Roberto Tavares.
Em 1989, durante a crise de segurança pública vivida pelo Rio de Janeiro, faz os primeiros registros fotográficos das grades que começavam a ser instaladas pela cidade, para proteção e isolamento de residências e imóveis comerciais, além de espaços públicos e mobiliário urbano. Esses registros acabam gerando a pesquisa Grades, que Mourão desenvolve a partir da paisagem urbana ao longo das três décadas seguintes.
Em 1990, transfere-se para o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Divide o ateliê, por um curto período, com José Damasceno, na Rua Taylor. Nessa época, o artista realiza as primeiras experimentações tridimensionais, produzindo esculturas e objetos como Cream Cracker e Ovo Violão. Cria, em parceria com Damasceno, o artista fictício Cafio, uma espécie de heterônimo dos dois artistas.
No ano de 1991, Raul Mourão participa de sua primeira exposição coletiva, o 15º Salão Carioca de Arte, na EAV-Parque Lage, com três desenhos e fica em segundo lugar na premiação do júri formado pelos críticos de arte Frederico Morais, Ligia Canongia, Marcus de Lontra Costa, Paulo Venâncio Filho e Reynaldo Roels. O artista, que participa pela primeira vez de um salão, têm seu trabalho e premiação divulgados com grande destaque na mídia da época.
No início do ano de 1992, passa a dividir ateliê com Angelo Venosa, Cassia Castro, José Bechara e Luiz Pizarro, em um grande casarão da Rua Visconde de Paranaguá, no bairro da Glória, Rio de Janeiro. Em março, realiza uma pequena mostra junto com o artista Cabelo na Livraria By the Book (RJ). Nessa mini-individual, intitulada Esculturas/Desenhos, Mourão apresenta duas peças em chapas de ferro galvanizado e duas obras em óleo sobre papel. Mas é no ano seguinte, 1993, que realiza o que considera sua primeira exposição individual. A convite de Everardo Miranda, apresenta Humano, na galeria do Espaço Cultural Sérgio Porto (RJ), com trabalhos em mármore, ferro, vidro e água.
Ao longo da década de 1990, Mourão participa de uma série de exposições, coletivas e individuais, onde apresenta trabalhos que anunciam questões e procedimentos que vão marcar toda a produção do artista. Em 1993, volta a participar do Salão Carioca de Arte, na EAV-Parque Lage, e nessa 17ª edição apresenta a escultura Sem Título, que remete à situação da penalidade máxima do jogo de futebol. Esse é o primeiro trabalho do artista que dialoga com o esporte. Já no ano seguinte (1994), participa da exposição Preto no Branco e/ou…, com curadoria de Paulo Herkenhoff, também na EAV-Parque Lage, com os artistas Amador Perez, Anna Maria Maiolino, Franz Weissmann, Maria do Carmo Secco, Mira Schendel e Manoel Fernandes. Mourão apresenta desenhos em óleo sobre papel. No texto publicado no folder da mostra, Herkenhoff comenta sobre o trabalho de Mourão:
“Nessa exposição a obra de Raul Mourão parece deliberadamente propor uma confusão. A matéria bruta dos empastes de papel oleoso, contrasta no jogo de claro/escuro gráfico da “figura”, linha gestual ou linha de contorno. (…) Se isso é desenho, estranha é a sua opulência de corpórea. Se isso é pintura, marcante é uma vontade gráfica incorporada em carga pictórica. No entanto, indagar se pintura ou desenho seria aqui dúvida ociosa, nesse processo histórico de expansão do campo das linguagens. (…) Nessa obra pode ainda ser encontrada uma disparidade de humores. Há jogos visuais graves, severos. Há outros irônicos. A consequência centra-se num vocabulário de estranhezas, de formas primitivas, fantasmáticas.”
Em 1995, na galeria do Espaço Cultural Sérgio Porto (RJ), realiza o vídeo 7 artistas, para o qual convida os artistas André Costa, Barrão, Carlos Bevilacqua, Eduardo Coimbra, Marcia Thompson, Marcos Chaves e Ricardo Basbaum. Mourão os pendura com cintos de alpinismo nas paredes da galeria, filmando a ação e o espaço expositivo ocupado por eles. Valendo-se do humor e da ironia, o artista realiza o seu primeiro trabalho em vídeo, abordando o universo da arte. Com duração de 60 segundos, 7 artistas tem direção de fotografia de Paulo Violeta e edição de Leonardo Domingues. Segundo Mourão, “esse trabalho é uma espécie de gag visual, na qual artistas e obras se confundem e ocupam o mesmo lugar.”
Em 1996, Mourão realiza a sua segunda exposição individual, na Galeria Ismael Nery do Centro de Artes Calouste Gulbenkian (RJ). Apresenta quatro esculturas em ferro e uma imagem digital. Por ocasião da mostra, há um debate com o artista Marco Veloso, que também escreve texto sobre o trabalho de Mourão, cujo título é Um lugar que não existe:
“(…)Objetos da vida cotidiana são arrancados de seus contextos, delicadamente, por uma poética lançados no ambiente da arte, feitos em ferro e, então, agressivamente, inseridos numa linguagem artística de quase nonsense. Pode ser uma trave de futebol, uma vassoura, um gaveteiro ou um guardanapo sobre um copo. Se todo aquele que faz arte caracteriza-se por um estilo, esse misto de violência e sensibilidade são a assinatura de Raul. Mas, não há regras em arte e Raul talvez nem mesmo tenha um estilo.”
Em 1999 realiza na Fundição Progresso (RJ) a exposição individual Sintético, reunindo os trabalhos Sente-se, Alcoólatra: indivíduo dado ao vício do álcool, Patas, Bolas, MAM, Carro/Árvore/Rua e Barcos/Cabeça. No folder publicado na ocasião são apresentados trechos de uma conversa, através da secretária eletrônica, entre Mourão e a artista Laura Lima, que também inaugura exposição no local. Em uma das mensagens, Mourão cita um trecho do livro Quincas Borba, de Machado de Assis, que remete ao universo e pensamento presentes em seu trabalho:
“Quem conhece o solo e o sub-solo da vida sabe muito bem que um trecho de muro, um banco, um tapete, um guarda-chuva, são ricos de idéias ou de sentimentos, quando nós também o somos, e que as reflexões de parceria entre os homens e as cousas compõem um dos mais interessantes phenomenos da terra.”
No mesmo ano, também na Fundição Progresso, apresenta a escultura Cartoon na mostra Fundição em conserto. Para esse trabalho, o cineasta Piu Gomes escreve o seguinte texto:
“A cena é clássica: do alto, o objeto pesado despenca em cima do personagem, que estatelado, fica a ver estrelas no ar. CARTOON transporta a ironia de um dos ícones do cinema de animação para o espaço da arte. Um corpo sem cabeça, literal paletó de madeira que termina na grande caixa, pesada, desproporcional. / Estamos perante o achatamento do pensamento racional, esmagado por uma blitzkrieg emocional? Ou constatamos que a vida real pode ser tão imprevisível como o mundo do desenho animado, onde as coisas desabam sobre a gente sem aviso prévio? / Você viu o cabeção por aí? Dizia uma canção dos Golden Boys. Stop making sense, dizia uma canção dos Talking Heads. CARTOON radicaliza essa proposta sendo fiel ao universo que o originou: simplesmente, nonsense. Quebre a cabeça.”
Ainda em 1999, participa no Paço Imperial da exposição Os 90, a convite da artista Iole de Freitas, uma das curadoras da mostra. Apresenta a instalação Não Realizados, composta por peças que fazem parte de projetos de grande escala desenvolvidos por Mourão.
Em paralelo às exposições, em 1992 conhece o diretor de cinema Roberto Berliner e inicia parceria de trabalho que, ao longo dos anos 1990, o leva a realizar a co-direção e a direção de arte de videoclipes (Skank, Os Paralamas do Sucesso, Lobão, Pedro Luís e a Parede, entre outros) e documentários (série Som da Rua e A pessoa é para o que nasce). Em 1996 realiza desenho para o encarte do CD Nove Luas dos Paralamas do Sucesso. Para esse projeto, também são convidados os artistas Beatriz Milhazes, Barrão, Daniel Senise, Ione Saldanha, Lygia Pape e Victor Arruda.
Já em 1995, Mourão, Eduardo Coimbra e Ricardo Basbaum lançam, na EAV-Parque Lage, a revista Item, concebida e editada pelos três. A item-1 apresenta desenho de Artur Barrio e textos de Leonilson, Lygia Pape, Ricardo Basbaum e Sérgio Romagnolo. Esse primeiro número, com conteúdo totalmente inédito, tem como tema os textos de artistas. A Item-2, cujo tema é música, apresenta desenho de Hermeto Pascoal e textos de Ronaldo Brito, Arthur Omar, Nuno Ramos, Itamar Assumpção, Paulo Herkenhoff e José Thomaz Brum. Publicado em outubro, esse segundo número é lançado no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Brasília e em Goiânia. A partir do número seguinte, Mourão já não participa mais da edição da revista.
Ainda em parceria com Coimbra e Basbaum, funda e coordena em 1998 o AGORA – Agência de Organismos Artísticos, criado no Rio de Janeiro para atuar de forma dinâmica e independente na concepção e realização de projetos que visam ampliar o campo de atuação e debate da arte contemporânea brasileira.
Em maio de 2000, Mourão, Eduardo Coimbra, Ricardo Basbaum e Helmut Batista, fundam e passam a coordenar o Espaço AGORA/Capacete, fruto da união dos grupos Agora e Capacete Entretenimentos, localizado na Rua Joaquim Silva, na Lapa (RJ). A coordenação de produção fica a cargo da historiadora Luiza Mello. No evento de inauguração, o grupo Chelpa Ferro apresenta a performance “A garagem do gabinete” de Chico. No mesmo ano, o Agora inicia a publicação de uma coluna semanal de arte contemporânea, no site super11. Para a coluna, que é apresentada durante três meses, Mourão escreve alguns textos. Em 2001, organiza a individual de Fernanda Gomes, no Espaço AGORA/Capacete. Escreve o texto Visita à camarada F., sobre o trabalho da artista, que é publicado no site super11. Por ocasião da exposição, Mourão participa de um debate com o crítico Paulo Venancio Filho. No mesmo ano o Espaço AGORA/Capacete é selecionado pelo programa Petrobras Artes Visuais. O projeto aprovado inclui a realização de seis exposições, a publicação de dois números da revista Item e a construção de um site.
Essa década é marcada pela participação em uma série de exposições. Ainda em 2000 participa da mostra A imagem do som de Gilberto Gil, no Paço Imperial, apresentando pela primeira vez, uma obra da série Grades, intitulada Protótipo. No ano seguinte, a pesquisa Grades/Rio de Janeiro/2000 é selecionada pelo 6o Programa de Bolsas RIOARTE, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Com o apoio da bolsa, Mourão desenvolve a pesquisa durante um ano [de setembro de 2001 a 2002], dedicando-se a registrar as grades no espaço urbano. A pesquisa, que se restringia ao Rio de Janeiro, passa a abranger as cidades de Porto Alegre, São Paulo e Vila Velha. Segundo o artista:
“(…) a ocupação desordenada das vias públicas que observamos no Rio também de repete nessas cidades. O caos é o mesmo e acabei descobrindo novos objetos-estruturas-grades: carrinhos de catadores de papel, cercas de árvore, o esqueleto das barracas de camelôs, churrasqueiras improvisadas, cavaletes, etc. Tudo isso foi fotografado e esse novo material acabou sendo incorporado à pesquisa.”
Ainda em 2001, realiza a vídeo-performance Artistas na III Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, na qual retoma a ideia desenvolvida em 7 Artistas (1995). Mourão convida os artistas Lucia Koch, Mário Ramiro e Nelson Rosa para participar da performance realizada na noite de inauguração da Bienal, no Hospital Psiquiátrico São Pedro. Os três são pendurados, com equipamentos de alpinismo, nas paredes do espaço expositivo, e permanecem assim por uma hora, enquanto o espaço fica aberto para os convidados. A ação é registrada por várias câmeras. No dia seguinte, posicionados nos mesmos locais e presos com os mesmos equipamentos, encontram-se monitores de vídeo, que apresentam registros de cada artista, com duração de 58 minutos. Mourão também apresenta a escultura A Grande Área, produzida com aço pintado e seguindo as dimensões oficiais do campo de futebol, conforme regulamento da FIFA. A obra integrou a mostra de intervenções urbanas, realizada no Parque Sirotski Sobrinho.
Também em 2001, Mourão apresenta a instalação O carro/A grade/O ar na mostra Panorama da Arte Brasileira, com curadoria de Paulo Reis, Ricardo Basbaum e Ricardo Resende, no Museu de Arte Moderna, São Paulo. Participa da exposição Outra Coisa, realizada pelo AGORA, no Museu Vale do Rio Doce, Vila Velha, junto com Brígida Baltar, Eduardo Coimbra, João Modé e Ricardo Basbaum. No texto de apresentação da mostra, o crítico de arte Paulo Sergio Duarte escreve:
“(…) O veio reflexivo da arte contemporânea no Brasil conseguiu se manifestar, com evidente contundência plástica, numa poética rica e generosa em relação ao espectador, sem abrir mão da complexidade necessária para a exploração crítica de limites e fronteiras. É dentro dessa tradição recente que esses trabalhos se inscrevem. A riqueza individual de cada uma das obras é evidente e caberia uma longa dissertação para apontar suas contribuições, e no entanto, cabe sublinhar um traço comum: a pesquisa formal desses artistas atreve-se a romper sem medo certos tiques recentes da arte brasileira que amesquinham sua história.”
Em 2002, a exposição Love’s House, idealizada por Mourão e produzida pelo AGORA, reúne treze artistas cariocas: Brígida Baltar, Carla Gagliardi, Chelpa Ferro, Eduardo Coimbra, Fernanda Gomes, João Modé, Laura Lima, Lívia Flores, Marcos Chaves, Ricardo Basbaum, Ricardo Becker, Tatiana Grinberg e o próprio Mourão. Durante uma semana, simultaneamente à 25ª Bienal de São Paulo, cada artista ocupa um quarto do terceiro andar do hotel Love’s House, que fica ao lado da sede do AGORA, na Lapa. No quarto 303, Mourão apresenta Área de queda, instalação da série Grades, composta por três peças em aço pintado de branco.
No mesmo ano, escreve texto para a exposição Estímulo Puro, de João Modé, que encerra as atividades do AGORA. O coletivo, ao longo dos quase três anos de atividade, realizou trabalhos com os artistas Antoni Muntadas, Brígida Baltar, Carlos Bevilacqua, Chelpa Ferro, Fernanda Gomes, Foreign Investment, João Modé, Jordan Crandall, Karin Schneider, Laura Lima, Livia Flores, Nicolás Guagnini, Tatiana Grinberg, e com os críticos e curadores Claudio Dacosta, Glória Ferreira, Ligia Canongia, Paulo Herkenhoff, Paulo Sergio Duarte, Paulo Venâncio Filho e Ronaldo Barbosa.
Ainda em 2002, realiza o vídeo Cão/Leão, que apresenta o dia de um cachorro vira-lata. Segundo Mourão, “o vídeo é uma paródia de reality show que transforma a rotina do vira-lata. De figura desprezada e abandonada, o cachorro se transforma em personagem principal de um filme, centro das atenções de uma equipe de filmagem. Uma mistura sarcástica de imagens documentais ao modo National Geographic e narrativa do Walt Disney. Do anonimato ao estrelato em apenas 15 minutos.” O vídeo, com duração de 45 minutos, é dirigido por Mourão em parceria com a diretora Paola Vieira e edição de Leonardo Domingues.
É também em 2002 que faz sua primeira individual em Belo Horizonte. Carga Viva reúne na Celma Albuquerque Galeria de Arte (BH) esculturas e serigrafias da série Grades, Cartões, Sem braços e sem cabeça e o vídeo-objeto Artistas/Lucia Koch. No texto do catálogo, o crítico Fernando Cocchiarale, escreve:
“Ao contrário da lógica do ready made, as apropriações feitas por Mourão restringem-se, em sua maioria, à esfera dos materiais de trabalho, determinada, com freqüência, pela analogia com a matéria-prima usada nos objetos reais que servem de referência às recriações do artista. (…) Ele quase nunca utiliza objetos previamente produzidos. Toma-os, antes, enquanto referência para seu trabalho, jamais como modelos. No entanto, não existe aqui, também, por oposição ao ready made, qualquer proximidade com a valorização do artesanato, da mimesis, ou de outras formas de representação.”
No Rio de Janeiro, também participa das exposições coletivas Caminhos do contemporâneo 1952/2002, no Paço Imperial; A cultura em tempos de AIDS, no Museu Nacional de Belas Artes; e Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna. Essa última, itinera, em seguida, para o Museu de Arte Moderna da Bahia.
Em 2003, o artista apresenta a exposição individual Cego só bengala, no Centro Universitário Maria Antonia da USP. Mourão expõe a série de fotografias DRAMA.DOC e esculturas, realizadas a partir da pesquisa Grades. No catálogo da mostra, a crítica Daniela Labra escreve:
“Numa paródia provocativa, Mourão recorta certa situação do panorama da urbe e a cola no espaço físico reservado à Arte. Do seu particular fascínio com grades, o artista explora a questão social embutida na histórica importância dada a essas estruturas e principalmente o lado plástico do absurdo anti-estético de muitas construções que acabam tornando-se “sub-arquiteturas” em nome da segurança reforçada. A cidade nos serve diariamente um banquete de visualidades mas, acostumados com aberrações ao redor, passeamos incólumes pelas vias congestionadas de sujeiras e maravilhas, esquecidos de que tudo o que se vê é produto e consequência de nós mesmos.”
No fim de 2003 apresenta a exposição Pequenas Frações, primeira individual realizada pela galeria LURIXS Arte Contemporânea, Rio de Janeiro. Nessa mostra, Mourão reúne trabalhos elaborados a partir de imagens, sinais, símbolos e marcos do cotidiano da cidade e de sua própria vida. “Caderno de anotações”, por exemplo, é uma animação digital de 20 minutos de duração, feita a partir de desenhos retirados de seus cadernos pessoais. Mourão também apresenta as serigrafias “Maracanã enterrado”, “Escultura para Waly” e “Mata-mata”, duas esculturas da série “Boxer” e duas pinturas em tinta automotiva e fórmica sobre MDF.
Em 2004, a convite do crítico de arte e curador Agnaldo Farias, apresenta a instalação Entonces, da série Grades, composta por 100 esculturas de aço, na mostra SP 450 Paris, no Instituto Tomie Ohtake (SP). No mesmo ano a instalação inaugura no Paço Imperial (RJ), e sobre ela o crítico de arte Luiz Camillo Osório escreve:
“Entonces, que é o sugestivo título da exposição, parece se desdobrar em uma pergunta sobre o que fizemos de nosso espaço urbano. Nós nos protegemos e nos enclausuramos, esse é o paradoxo de uma cidade em pânico. (…) Assim como em outros momentos de sua trajetória, é também a ambivalência entre signo e forma algo determinante nessa obra. A desconstrução do signo e a constituição da forma vão se processar no deslocamento “das grades” para a galeria, na perturbação da funcionalidade, na produção de um não-lugar.” (Fonte: Segundo Caderno do Jornal O Globo, 18 de maio)
Convidado para a segunda edição dos projetos especiais do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, o artista apresenta, ainda em 2004, a exposição “DRAMA.DOC”, composta por fotografias e esculturas. Sobre o trabalho de Mourão, o crítico e curador Guilherme Bueno escreve:
“(…)Tomada a visualidade como ato afirmativo, o que se coloca, de certo modo, é um desafio histórico. Pois se a grade constituía o instrumento renascentista de vislumbre de uma ordem cósmica (a perspectiva) ou, no caso de um artista moderno como Mondrian, a expressão depurada rumo à libertação do sujeito no mundo através do olhar, aqui ela parece fazer retornar essa ansiedade em contramão: não é mais o objeto de atravessamento em direção a conteúdos puros, e sim a materialidade efetiva daquilo que nos cerca. (…)”
Em 2005 realiza a exposição “Luladepelúcia”, na LURIXS Arte Contemporânea (RJ). A partir da imagem do Presidente Lula, Mourão produz industrialmente bonecos de pelúcia, além de desenhos e trabalhos gráficos em parceria com os artistas Barrão, Carlos Vergara, Fábio Cardoso, Lenora de Barros, Luiz Zerbini e Marcos Chaves. Escrevem textos sobre o trabalho, o publicitário André Eppinghauss, Daniela Labra, Fausto Fawcett, Marcelo Pereira, o crítico de arte Paulo Reis, Piu Gomes e o artista plástico André Sheik. A série de trabalhos apresentada na mostra, que tem repercussão imediata na mídia nacional, começou a ser pensada pelo artista quando o Presidente tomou posse, em janeiro de 2003.
Ainda em 2006 realiza a exposição “Luladepelúcia” e outras coisas na galeria Oeste, São Paulo, apresentando nova série de personagens ainda inspirados na figura do presidente. Mourão convida 20 artistas para realizar os desenhos em parceria com ele: Afonso Tostes, Artur Lescher, Barrão, Carlito Carvalhosa, Carlos Bevilacqua, Daniel Steegmann, Ding Musa, Eduardo Coimbra, Fabio Cardoso, Guto Lacaz, José Spaniol, Leda Catunda, Lenora de Barros, Marco Gianotti, Marcos Chaves, Nina Moraes, Paulo Climachauska, Renata Lucas, Rochelle Costi e Sergio Romagnolo.
No ano seguinte, apresenta sua terceira exposição individual na galeria Lurixs Arte Contemporânea, exibindo duas séries de trabalhos, todos produzidos no mesmo ano. Na série Fitografias mergulhou na observação do comércio informal de bebidas do Rio de Janeiro se apropriando da geometria colorida das fitas adesivas que protegem as caixas de isopor dos vendedores ambulantes para realizar telas e um objeto tridimensional com faixas de fórmica coloridas aplicadas sobre MDF. No outro conjunto de esculturas que completa a exposição, Mourão mistura caixas com pequenas mesas e bancos criando obras que se assemelham a objetos do cotidiano, mas destituídos de suas características funcionais. Ainda para essa exposição foi produzida a animação 4 caixas / 4 bases, em que diferentes combinações de bases e caixas são apresentadas. No mesmo ano, Raul Mourão monta na 3+1 Arte Contemporânea (Lisboa, Portugal) a individual Mecânico, onde apresenta trabalhos da série “Fitografias”, “Caderno de anotações” e o vídeo “Cão/Leão”.
Em 2008 na Caixa Cultural do Rio de Janeiro participa da exposição coletiva Travessias Cariocas com a instalação Daisy e eu, resultado da experiência proposta pelo poeta e crítico Adolfo Montejo Navas, onde cada artista participante deveria se apropriar da poética de outro integrante da coletiva. No caso, Raul inspira-se na obra da artista Daisy Xavier. No ano seguinte, apresenta uma instalação no jardim do Museu da Casa Brasileira (SP) composta por conjunto de pedras brutas cercadas por grades de aço, como parte da exposição “Experimentando espaços” , com curadoria de Agnaldo Farias.
Ainda nos anos 2000, para além das exposições, participa da criação da Tecnopop, produtora de design multimídia, com os designers Marcelo Pereira e Sonia Barreto, o jornalista Luis Marcelo Mendes e o empreendedor Rodrigo Machado. Em 2003, o designer e arquiteto André Stolarski passa a integrar o grupo de sócios da empresa.
2010 foi um ano de transição para a obra de Raul Mourão. Inspirado em experiências que bailarinos da companhia de dança Intrépida Trupe desenvolviam com algumas de suas esculturas da série Grades, para apresentação do espetáculo Coleções, Raul percebeu a possibilidade de criação de esculturas cinéticas. O que marcou essa transição foi a apresentação da instalação Passagem em março na exposição Projetos (in)Provados com curadoria de Sônia Salcedo na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. A mostra tem como ponto de partida a relação entre arte e arquitetura, e reuniu dentro do espaço expositivo e também no entorno do edifício da CAIXA, como o Largo da Carioca, obras de 12 artistas, entre instalações, intervenções e seus respectivos registros e projetos.
Ainda nesse ano, inaugura a exposição individual Balanço Geral na Galeria Ateliê Subterrânea, em Porto Alegre – primeira individual do artista a apresentar obras cinéticas. No texto de apresentação da exposição, intitulado Do ferro ao afeto (2010), o crítico Felipe Scovino comenta:
“Foi impressionante perceber não apenas uma nova possibilidade para uma experiência cinética nas artes, mas fundamentalmente a ação em seu estado bruto transformando algo com o qual sempre identificamos como inerte. Portanto, uma ação que, rompendo com a inércia da forma-matriz, projeta a escultura para o espaço. Pela ação do gesto sobre a matéria, essas esculturas se mantêm todas iguais, só que absolutamente diferentes entre si. Cada uma é uma, sendo fundamentalmente todas. No deslocamento da contemplação para a ação, Balanços promove uma espécie de suspensão do sujeito; seu ponto de partida é o acionamento do mecanismo cinético pelo toque do espectador. No ritmo coordenado de seu movimento, uma fração de tempo (que não corresponde ao tempo cronológico, mas se coloca como espaço/tempo experimental de liberdade) impõe o que poderíamos qualificar como sequestro do espectador: como se naquela exata condição espacial e temporal, a obra anunciasse que a arte não se reduz ao objeto que resulta de sua prática, mas ela é essa prática como um todo”.
Nos meses que se seguiram foram outras duas exposições individuais apresentando esculturas cinéticas: Cuidado Quente na Galeria Nara Roesler, São Paulo, e Chão, Parede e Gente na galeria LURIXS: Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro. O crítico Frederico Coelho escreveu o texto que acompanhou a mostra carioca, no qual aponta:
“Raul Mourão sempre esteve apavorado. Blindado em abstrações, andava nas ruas e via grades onde viam a salvação. Cercou carros, cercou pedras, cercou árvores, perseguiu cachorros, esmagou cabeças, calou surdos, encaixotou mitos, pendurou artistas, expandiu ódios, cultivou parceiros. Eis que, através de uma fresta, quando reatamos ilusões e celebramos a vida a troco de nada, Raul encontrou leveza. Uma forma de espantar os males e expandir afetos se apresentou a ele onde menos se esperava: no geométrico vai e vem do aço. Na frieza dos ângulos retos, o artista abriu uma nova avenida para os seus olhos. Mesmo assim o pavor permanece. Estar apavorado não é uma opção, mas sim uma condição. Raul e seu ateliê localizam o mundo inteiro a partir de uma rua do bairro da Lapa. Às vezes, ele se instala na subida da escadaria, onde os gringos e as putas e os moleques e os azulejos e as famílias e os casais e os abandonados cruzam os dias frenéticos do artista. Ignorando choques de ordem e condomínios com academias de ginástica, as ruas da Lapa continuam alucinadas. Raul sabe disso. As esculturas cinéticas dessa exposição são a prova de que mesmo nessa alucinação urbana, mesmo na ferrugem que carcome as formas, mesmo apertados entre chão, parede e gente, ainda há beleza”.
Em 2012 apresenta no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro a exposição individual Tração Animal, onde são expostas esculturas produzidas com tubos de aço galvanizado e braçadeiras, a instalação Sala/Sombra e o vídeo Plano/Acaso, formando um conjunto representativo de obras recentes. Para o catálogo da exposição, o crítico Luiz Camillo Osório, curador da exposição, escreveu:
“A presença plástica e visual do mundo entra em sua obra não como tema, mas como energia que se infiltra no processo criativo, desdobrando o olhar curioso em estruturas cinéticas, em planos rítmicos, em sombras dançantes. O movimento dos balanços se desloca para os planos verticais do elevador e deste para o desenho misterioso de luz e sombra. Se na sala das sombras, apesar da presença física das pequenas esculturas, há um encantamento meio mágico, que surpreende o espectador e o leva para um plano meio fantasioso, meio ilusório, no vídeo, apesar da virtualidade do meio, o que prevalece é a materialidade que se insinua entre os planos de luz, sombra e concreto. Um nos leva ao sonho, o outro nos leva à cidade. Este jogo entre sonho e cidade é algo que atravessa a poética do Raul desde sempre e que convida a um descondicionamento da percepção. As coisas podem ser percebidas sem uma determinação funcional, sem a prescrição definida por qualquer ordem de necessidade. Esta é a liberdade de um olhar estético que se deixa seduzir pelo mero aparecer dos fenômenos, pela simultaneidade e pela singularidade dos dados sensíveis do acontecimento. A câmera aberta e atenta ao lento movimento do elevador está disponível ao acaso e a mera fruição do que se apresenta em cada passagem de luz”.
Nessa mesma década, suas esculturas cinéticas ganham escala e passam a ser pensadas para a área externa de museus e também no espaço urbano. Ainda em 2012, a exposição Toque Devagar leva para a Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, seis esculturas cinéticas de grandes dimensões. Em 2016 foi a vez do Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE) receber a exposição Você está aqui, que além das obras no espaço expositivo do museu, apresentou uma escultura cinética de grandes dimensões no pátio externo. Cauê Alves, curador da exposição, destacou em seu texto:
“De fato, há um tom lúdico nas peças de Raul Mourão. Elas dançam, se comportam como se beliscassem a arquitetura e evocam uma espontaneidade, uma ação descontraída e despretensiosa do corpo do visitante. O movimento ritmado e o equilíbrio das esculturas entretêm o público, atraem o olhar, sem deixar de provocar questionamentos. Será que a exposição está pronta? A aparência de inacabado, a transparência das peças são relevantes ao chamarem atenção para o processo de construção, para o devir. As estruturas modulares, usadas em grandes projetos de engenharia, para o sujeito desavisado, poderia indicar que o prédio do museu passa por alguma reforma. Embora o MuBE esteja bem conservado, conceitualmente está se revitalizando, está em obras. Um novo projeto curatorial e de gestão estão sendo implantados. A mostra de Raul Mourão faz parte desse novo MuBE e colabora para uma outra relação da arte com a arquitetura e a paisagem urbana, ressaltando o lugar onde estamos: aqui”.
O ano de 2013 também marca a mudança do artista para Nova York, que passa a se dividir entre o ateliê da Lapa (RJ) e do Harlem (NY). Entre as exposições que realiza na cidade está a coletiva All The best Artists Are My Friend – part 1, curada pelo artista Ray Smith em 2014 na Mana Glass Gallery. Já em 2015 apresenta no The Bronx Museum a exposição Please Touch reunindo uma instalação homônima de grande escala no terraço do museu, além das obras Street Arrow (inspirado em sinalização rodoviária e antigos painéis publicitários) e Cave (uma referência às portas metálicas das caves encontradas em frente a restaurantes e bodegas de toda a cidade). Ainda em 2015, realiza Su Casa no espaço Gitler & _____, apresentando pinturas da série Janelas. No mesmo ano, oito pinturas dessa série formam o núcleo central da exposição Fenestra, na galeria Lurixs Arte Contemporânea, com curadoria de Eucanaã Ferraz. Em seu texto de apresentação da exposição, ele escreve:
Nas esculturas apresentadas agora na Lurixs, as grades permanecem de fora do foco de interesse, mas a abstração também recuou para dar a ver algo prosaico e reconhecível, que as grades furtavam à vista: as próprias janelas. Estamos, porém, diante da invenção, e com ela ergue-se uma arquitetura fragmentária e móvel, dançante, graças a uma cinese da matéria que refaz aos olhos – e ao toque – do espectador as condições de peso, volume, movimento, equilíbrio, tempo, valor.
Interessa aqui menos a função ou a utilidade das coisas que sua situação e ontologia. O olhar de Mourão volta-se sobretudo para a inteligibilidade aparente das formas, como se estas falassem diretamente conosco. O conjunto de sua obra – esculturas, desenhos, pinturas, gravuras, vídeos, instalações, performances – vasculhou sempre subjetividades em ação, em permanente coincidência com o espaço real em que se movem. Se a cidade, contudo, não se separa de seu habitante, e vice-versa, não interessam a paisagem ou as contingências de tempo e espaço como simples pano de fundo: as formas arrancadas à cidade importam na medida em que deixam ver a memória das práticas sociais. Por isso, em vez de formas puras temos aquela geometria impura, na qual já não é possível vislumbrar uma abstração stricto sensu nem a mera figuração.
Em 2019 apresenta sua terceira individual na Galeria Nara Roesler: Introdução à teoria dos opostos absolutos. Repleta de antagonismos, a exposição reafirma a produção multimídia do artista – composta de esculturas, fotografias, pinturas e vídeos – e incorpora comentários poéticos sobre o caos social e político brasileiro naquele momento. Uma das obras é o vídeo Bang-bang (2017) em que seis esculturas, feitas com aço e garrafas de vidro, são alvejadas por tiros que partem de armas de fogo. Nesta obra, além de retornar ao tema da violência, assunto recorrente em seu trabalho, o artista faz referência ao ódio pela criação artística, em referência aos episódios de censura sofridos por artistas e exposições no Brasil a partir do fechamento da exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Santander Cultural em Porto Alegre em 2017. Em texto sobre a obra Bang Bang, a crítica Luisa Duarte afirma:
Raul pensa e realiza Bang Bang à luz dos acontecimentos de 2017, quando a arte contemporânea brasileira se tornou alvo da sanha fascista que assola o Brasil, nos fazendo testemunhar inúmeros casos de censura à liberdade de expressão.1 O vídeo pode ser lido, portanto, como uma resposta ao momento no qual a arte se tornou alvo de forças violentas. Mas, note-se, Bang Bang jamais ilustra tal situação, o que o tornaria panfletário.
Antes instaura um acontecimento poético marcado pela concisão. A garrafa, a forma geométrica em aço, o registro cinético ali investido que coloca tudo em um equilíbrio tênue: o artista cria uma cena a um só tempo lúdica e rigorosa, afetiva e sóbria, delicada e tesa. Espécie de ampulheta que conta um tempo que pode, a qualquer momento, se romper. Encontro de opostos: as garrafas vazias plenas de memórias que trazem inúmeras possibilidades narrativas e as formas geométricas metálicas fechadas em si mesmas.
No mesmo ano, Raul Mourão apresenta com o artista Cabelo a exposição Experienza Live Cinema #4, reunindo no espaço O.M. Art (RJ) obras dos dois artistas e uma obra feita em dupla. Com esculturas, fotografias, objetos e projeções, a mostra fica no limiar entre exposição e performance, estabelecendo diálogos livres entre os dois artistas, e convidados. Participaram da exposição os artistas Lenora de Barros, Lucia Koch, Marcos Chaves, o coletivo Chelpa Ferro, Crackboysjr, e Anani Sanouvi (Cia Kawin). Dentro da programação também foram realizadas conversas abertas ao público com a artista Aleta Valente, o filósofo Bernardo Oliveira e o pesquisador e professor Frederico Coelho. Experienza Live Cinema #4 revela também uma parceria de trabalho antiga entre os dois artistas, que juntos criaram, em 2011, o Rato BranKo. Em 2016 o projeto se reconfigura como uma produtora, um laboratório experimental focado na realização de filmes, músicas, e objetos de arte.
Em 2015, o artista lança a primeira edição do Livro-Revista Raul Mourão – Volume 1. Dividido em 14 capítulos, a publicação é uma espécie de depositário de ideias, trabalhos e exposições de Mourão nos dez anos anteriores. Reunindo esculturas, desenhos, pinturas, projetos, fotos, frames de vídeos e maquetes eletrônicas além de textos críticos e entrevistas, o projeto conta também com a participação de outros artistas e pensadores. Em 2020 foi lançado o Volume 2.
Ainda em 2015 lançou, como diretor editorial, a Jacarandá – revista trimestral sobre arte brasileira publicada em inglês e distribuída internacionalmente. A publicação é parte da plataforma homônima, de difusão da arte brasileira no cenário internacional, criada em 2014 a partir de uma série de encontros entre artistas e críticos, organizados por Carlos Vergara. No mesmo ano do lançamento da revista, o Jacarandá também iniciou uma edição de múltiplos, desenvolvidos especialmente por artistas, com valor arrecadado na venda é revertido na manutenção da plataforma.
Em 2019, estreou O mês que não terminou, primeiro longa-metragem de Francisco Bosco e Raul Mourão. Com pré-estreia mundial na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário propõe a analisar o processo institucional e social do país desde junho de 2013 até a eleição para presidente de Jair Bolsonaro em 2018, a partir da análise de ativistas, cientistas políticos, filósofos, psicanalistas e economistas. Vídeos de artistas plásticos complementam a reflexão sobre os fatos narrados.